"A tragédia desde mundo é que ninguém é feliz, não importa se preso a uma época de sofrimento ou de felicidade. A tragédia deste mundo é que todos estão sozinhos. Pois uma vida no passado não pode ser partilhada no presente."
Sonhos de Einsten, 1993
Um dia de julho.
O ponteiro dos segundos move-se impiedosamente, indiferente a tudo e todos.
O vento gelado sopra as cortinas para fora da sacada. O sol borra as cores dos azulejos e a barra de metal do parapeito. Sozinho, observo a brisa formar espirais de folhas secas de árvores, lá em baixo. O sol lá fora torna todas as cores excessivamente borradas e brancas, como se fosse um sonho. Verde, marrom e branco.
O rádio repete as mesmas já conhecidas músicas acústicas.
Sobia sempre a mesma rua, mais ou menos no mesmo horário, mas todo dia era único como se fosse o último. Logo o inverno e as férias seriam apenas lembranças e isso era assustador, pois já não mais era possível voltar atrás.
Curiosamente, foi no inverno que surgiram de minha boca as palavras que pensava nunca mais ter a ousadia de pronunciar.
Em um dia não tão diferente de hoje.
Por Leonardo Bighetti
A infinidade da incerteza
provoca a agonia de gritar calado.
Chorar dormindo, sonhar acordado,
desespero de arranhar azulejos frios.
Ousados como nunca antes e frios,
soluçam sem pausa no meu peito.
As lágrimas imprestáveis ecoam até na alma.
O ódio de ser menosprezado;
a perdição de viver calado;
cada um um passo para o abismo.
O quão certo serei?
Sem idolatrar a Mulher
continuo desviando, controlando e contendo.
Incrível, não é?
Apenas para então
um travesseiro crespo e cheio tocar e
uma cama fria e arrumada sentir,
e voltar ao antes citado...
Interno Gelado.
Ouvi dizer que cantar é complicado e a namorada é gostosa.
Refleti em uma resposta que não quer pronunciar.
Ouvi dizer que gostar é complicado e namorar é cantada
E respondi que complicar é cantada e que o gostoso é namorar.
Ouvi dizer também que cantar é gostoso e namorada é [complicada.
Eu refleti e...nada respondi.
O nada que corrompe o tudo,
Alguém me ajuda?
Não.
O sol que não se põe e não cobre a chuva.
Ah, desespero sussurrando: desistir?
Alguem me ajude?
Eu quero querer.
Quero querer mas não posso.
Eu não quero.
Seda. Os laços se apertam cada vez mais apertados;
quando estourarem não haverá mais presente.
Nem natal. Nem futuro.
O véu não me cobre porque os laços se apertaram mais apertados.
O véu não existe,
Por isso não cairá.
Esta é minha face:
a face do poeta sem face excêntrico até os ossos.
Apertado com laços até os ossos.
Sem face, laçado, vivo.
Monique, em seu farawayfromhere, fez alguns comentários excepcionalmente sintéticos e inteligentes sobre as mulheres, baseado em um artigo supostamente escrito por Rita Lee.
A ironia do contraste descrito é tão imensa que pode ser classificada como uma daquelas "engraçadas ironias do mundo".
Todas as modelos sorriem tão demasiadamente que chega a irritar, enquanto todas as mocinhas do carametade parecem tristes e desconsoladas por trás de falsos sorrisos, tentando inutilmente parecerem-se com aquilo que julgamos agradável aos olhos, desesperadas por alguém que as ame, que as dê atenção.
É patético.
Uma das características mais estúpidas da humanidade é de sempre achar que o outro está mais feliz do que você, ou que é mais completo ou tem isso ou aquilo. Ninguém é mais ou menos feliz simplesmente pelo fato de, bom, até hoje, não entendermos bem toda essa história de felicidade.
A sociedade não é necessariamente machista. É apenas cheia de supostos valores, com a ilusão da escolha.
A própria noção do mundo baseia-se necessariamente na sua experiência pessoal de vida. Somente o alto grau de instrução permite o suposto livre arbítrio consciente.
Enquanto isso, a final da Libertadores sempre será mais importante do que o mensalão.
Inundado por essa chuva torrencial de berros e recessos, de mentes e mentiras e mistérios desmistificados que já não possuem mais o mesmo apelo.
Inundado com toda essa propaganda barata, suposta rebeldia que se cala com o quieto zunido que sopra no ouvido e uma bela careta e o vendaval que passa, ah, como passa.
Inundado de todos os berros e recessos de todos os outros que se prendem e se agarram e gritam e choram suas existências infindáveis e por fim se calam pois já são sete horas e é hora de ir trabalhar.
E Deus no enésimo dia disse - e sete horas da manhã fará-se a luz, e todos os homens engolirão suas identidades e lágrimas e irão trabalhar.
Também dizem que Ele completou a frase com uma piadinha sem graça sobre o transporte público, mas por conta de três erros consecutivos de tradução, acabou sendo entendido como amai-vos uns aos outros, um engano terrível.
Porém, a questão é.
A questão crucial é, sem dúvida, a desnecessidade (palavra que muito provavelmente utilizei de todas as licenças poéticas do mundo para inventar, fazendo até Machado de Assis revirar-se no caixão com uma cólica daquelas) que se forma quando é levado em consideração o determinismo iminente de todas as coisas. Dois conceitos academicamente comprovados de estarem intimamente ligados.
Começando por começarem com a letra "D".
E provavelmente indo um pouco mais além.
Tecnicamente, a definição per se dos dois conceitos é:
desnecessário - adj., que não é necessário;
- supérfluo;
-
- dispensável.
determinismo
de
determinar
- s. m., conjunto de condições necessárias à determinação de um dado fenómeno;
- Filos., doutrina segundo a qual todos e cada um dos acontecimentos do universo estão submetidos às leis naturais, de tal forma que cada fenómeno está completamente condicionado pelos que o precedem e acompanham, condicionando com o mesmo rigor os que lhe sucedem;
-
- doutrina que implica que todas as determinações humanas estão sujeitas à acção providencial, negando o livre arbítrio.
Anos de pesquisa levaram a crer que uma das definições mais práticas e funcionais da teoria é o ditado que diz -
"não adianta chorar pelo leite derramado" (apesar de os bebês provarem sempre o contrário, eles não sabem ler ou escrever, senão sabe Deus que tipo de teoria
eles escreveriam).
Munido do conhecimento substancial desta informação, mais uma vez, a questão
é.
A questão
é que com o advento do
emprego, consequência direta da invenção do
salário, o
sentimento tornou-se obsoleto, ultrapassado, por conta de uma incrível fantástica reação em cadeia mais rápida que
spam do conceito de
ninguém se importa, porque ninguém se importa e eu não sei mais, ou mais precisamente, da
crise de identidade.
Porém, infelizmente é necessário citar que mesmo a
crise de identidade já é considerada
ultrapassada, além de o ruído formado por grupos de crises de identidade ser prejudicial à saúde, podendo causar
síndrome do pânico,
úlcera,
câncer,
depressão e a
morte.
E tudo isso torna-se demasiadamente desnecessário, pois todos os fenômenos estão previamente condicionados pelas famigeradas variáveis praticamente infinitas, tecnicamente negando o tal lívre-arbítrio.
E muito provavelmente, toda essa história é uma grande mentira.
Por Leonardo Bighetti