A Carta - Parte 1

De um verdadeiro amigo. Para um verdadeiro amigo.
Apresentando a amizade ao seu espelho...


A amarga escuridão que presencio, faz-se como uma nuvem ácida que corroe a alma dos desprovidos de fé. É engraçado como podemos sentir a amargura do próximo, é insano o almejo do alivio. Eu o conheci há um bom tempo, fios no rosto e hormônios prédispostos ainda não eram um objetivo direto.
Tempos de glória, sim... os invencíveis. Tempo este que só fez o laço vigorar e uma profunda amizade nascer.
Eu o vi olhar, eu o vi alcançar... será que fui covarde em não alertá-lo? Como me manter fiel a esta amizade, se interferísse no que a vida lhe propusera, a evolução encontrou a necessidade. Sinto pelo fim.
Sinto que não posso ter a pretensão indigna de citar palavras, cuja etimologia disponham-no ao conforto, e sim firmar o que já era certo, fazê-lo crer que não importa o tamanho do impacto que impulsiona-lhe ao sufoco da alma; junto às sombras, sangue e dor; neste mundo, nesta vida a tendência é que, ainda que ferido, voltes.
Apesar de vinte e um anos de permanencia, meus conflitos existenciais parecem corroídos, pela terceira vez e consecutiva, a vida o pune. Quando sentimos a pro-atividade percorrer a veia, conhecer respostas, parece brincar, vem a vida e muda as perguntas... ainda que evolução, complicado.
As circunstâncias negam as razões pelas quais estamos unidos, o fato é concreto como as paredes enormes que dividem o oriente. A necessidade antecede a culpa.
Porque àlguns é dado o poder de desferir destruição, talvez pelo âmago sublime da pura e hilária existência humana e suas reações, talvez simples interesse. Ainda não a compreendo.
Possuir tudo e desperdiçar... típico humanóide.
Sinto cada vez mais que nada determina melhor o que seremos, do que as coisas que sutilmente, optamos ignorar; sucumbir ao extremo é um mal necessário, tão certo como o tamanho, brutalmente superior, do arrependimento sobre os valentes abandonados.
Desejo que, em breve, sinta-se envolto do quão valoroso propósito a vida lhe empregou. Todos têm uma missão, a nossa, porventura incomum, é de trazer o inatingível para os olhos descrentes. Esqueça-se o passado, jamais retroceder-se-á. Tente entrelaçar suas idéias a ponto de, ainda que embaraçadas, torne sua existência menos sufocante.
Chega de hipocrisias, estamos todos cansados, joguemos o orgulho na sacra lata vasta, porém raza dos sentimentos. Não precisamos desta barreira.

(continua...)

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por Ricardo Cicarelli

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