Potencialmente humano
As gotas de água batem no vidro do carro, fazendo companhia a esta cansativa jornada. O som no carro ensurdecedor, faz esquecer a verdade obscurecida mais pela minha própria mente do que pelo insulfilm. O cansaço diário trava os músculos e fadiga o cérebro.
Numa esquina qualquer, no frio e na chuva, um menino bate no vidro de um certo Gol vinho e pede por um trocado. Minto compulsóriamente, "Hoje não tenho".
Pelos próximos poucos segundos, o remorso é confortavelmente sufocado por tantos anos de indiferença.
Indiferença.
Quando se está vivo apenas por milésimos de segundos de um dia da eternidade, algumas coisas tendem a acontecer. Quando não existe nada e tudo é tão inerentemente frágil, inevitavelmente a sobrevivência prevalece.
E os outdoors insistem em sinestesiar a vida alheia, garantindo-lhes sonhos e pacotes de férias luxuosos em ilhas paradisíacas.
Tudo é tão inutilmente em vão e insano. O tempo todo.
Entre o Céu e o Inferno, o potencialmente é o que mais me assusta.
Por Leonardo Bighetti
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