Caminhando a passos curtos, sem pressa, uma avenida qualquer.
Tarde de junho, vento gelado queimando os lábios, olhos apertados. Multidão de faces genéricas, esbarrando, desviando, esbarrando.
Andando, andando sobre o vento congelante, encarando pessoas genéricas e sem importância.
Gigantes baleias de metal lembrando coisas que lembram coisas que ninguém gostaria de lembrar.
"Você é um grande idiota."
De alguma forma, palavrinhas mágicas não convencem. De alguma forma, mesmo quando é confortável acreditar em qualquer palavrinha mágica que seja, nada é convincente o suficiente.
Gigantes baleias de metal seguem poluíndo o seu mundinho. O homenzinho está verde.
Papéis e folhetos, serviços ridículos, modelo de negócios falido.
Gigantes baleias de metal. Uma hora do ponto até o Paço Municipal e mais meia até São Paulo e ainda achava sensacional.
"Você é, definitivamente, um grande idiota."
Nem só de poesias vive um poeta.
Existe uma ligação muito forte, porém aparentemente invisível e incompreensível, entre minha vida, batatas-fritas e... sapos.
Certas vezes, as coisas não deveriam realmente fazer sentido, mas aceitar o fato de que não entender é necessário torna-se uma tarefa árdua, quando trata-se de si mesmo.
E em outras incertas vezes o ar que entra nas narinas e arde não chega aos pulmões. O tempo, tão curto, torna-se infinito e velha sensação, tão familiar, invade cada centímetro.
Como diriam os Borg - resistir é inútil.
Mas eu, como bom típico humanóide, sou especialmente bom em coisas inúteis.
Houve uma vez uma pessoa cuja amargura surpreenderia até os mais céticos dos poetas. Entre os dias mais cinzentos, entre bebidas e drogas alucinógenas, mostrou-me a dormência gritante de uma sociedade sem escrúpulos, sem vida e sem consciência, implorando para ser desperta. Sob as circunstâncias mais adversas, berramos nossa revolta em palavras, no vazio escuro da noite. Canalizando todo nosso próprio sofrimento, despertamos as almas alheias.
Glória de dias e dias que se foram.
Imaginando que destino fatítico teria sido o desta maravilhosa escritora, poeta e irmã, segui meus dias a esmo, no vácuo solitário da minha solitária existência no todo.
E dias tornaram-se anos. Não mais lembrava-me das noites em claro em que juntos descrevemos o caos nihilista da sociedade. O único elo entre o passado lúcido e o presente incrédulo era o pequeno diário da capa negra, rotulado de - nada menos que - "BlackSun".
Embora tema que seu temperamento e sofrimento tenham tomado conta de sua amarga vida, espero que nunca em vão. Pois os antigos dias estão marcados e disseminados. Pois estamos aqui, todos nós, berrando, ao meio do insano caos, insanas palavras.
Debaixo da nuvem fétida do monóxido decadente, todos permanecem calados.
Mas mesmo o mais mudo dos mudos, sabe ouvir.
Bip! Bip!
Despertei...
e o pesadelo continua.
por Leandro M. Bighetti (Bam)
Invencibilidade psicótica aparente, flama-te dominado.
*Deus pergunta*: Você fuma?
*Câncer responde*: Não.
Imagens borradas, e figuras desfiguradas. Adepto sem mente.
*Deus pergunta*: Você bebe?
*Cirrose responde*: Não.
Sangue frio que não mais pulsa tua mentalidade expulsa.
*Deus desaponta-se*: Você se droga?
*Overdose responde*: Não.
E o gladiador entra no Coliseu.
*Deus chora*: você fuma, bebe, e se droga?
*Morte responde*: Não.
Silêncio.
por Leandro M. Bighetti (Bam)
darkside
11:11 PM. 
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